Por Alexsandro Vanin e Fernanda Pereira*
A destruição da Amazônia segue em ritmo forte. De acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), depois de uma perda recorde de mata nativa em abril (1.197 km², 54% a mais do que o registrado no mesmo mês em 2021), foram devastados outros 1.125 km² em maio – 31% a mais do que no mesmo mês no ano anterior. Com isso, o acumulado dos primeiros cinco meses de 2022 (3.360 km²) é o maior registrado para o período desde 2008, quando o Imazon começou a monitorar a floresta por imagens de satélite.
O número é preocupante, pois além de estarmos no início da estação seca na Amazônia, que se estende de maio a outubro, é ano de eleições, quando geralmente ocorre um aumento do desmatamento. A previsão da plataforma de inteligência artificial PrevisIA é de que cerca de 15.400 km² sejam desmatados em 2022, a maior área de floresta derrubada dos últimos 16 anos. Mas qual é a solução para refrear a devastação da Floresta Amazônica e evitar que tal cenário se concretize?
A resposta para a pergunta não é simples, pois o problema é complexo. O desmatamento não está ligado apenas a exploração e comércio ilegal de madeiras: a atuação de grileiros e garimpeiros, caçadores e pescadores clandestinos e até mesmo atividades lícitas, como a expansão da agropecuária, por exemplo, contribuem para a destruição crescente na Amazônia – sem contar a influência do tráfico internacional de drogas e armas na região, evidenciada recentemente pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dominic Phillips. Boicotar a madeira amazônica, portanto, é uma medida inócua que ainda pode acarretar a adoção de matérias-primas não renováveis e menos sustentáveis, a compra de madeira de países com sistemas de controle ainda menos seguros, e a abertura de espaço para o avanço de atividades ainda mais danosas ao ecossistema.
Norte de soluções
Uma solução exige a atuação em diversas frentes, tendo como base um modelo de desenvolvimento econômico e social para a Amazônia alinhado com a conservação da floresta. Abrange desde a adoção de práticas de baixo impacto na agropecuária até o incentivo aos negócios da bioeconomia e Serviços Baseados na Natureza (SbN), passando pelo fortalecimento das comunidades tradicionais e povos originários nas cadeias de valor do extrativismo e outras atividades. Combina empreendedorismo, comércio justo, conhecimento científico, sabedoria tradicional, inovação e aplicação de tecnologias para valorização da biodiversidade. Exige controle e fiscalização.
No caso da madeira, por exemplo, o manejo florestal corretamente aplicado garante a gestão sustentável de recursos, contribuindo para a conservação do ecossistema e a preservação da biodiversidade. Modernas técnicas permitem extrair madeira com o mínimo de impacto negativo, e as certificações voluntárias asseguram a adoção de boas práticas socioambientais. Além disso, a presença de trabalhadores na mata ajuda a inibir a sua invasão. Apoiar e motivar o engajamento responsável do setor privado por meio de concessões de florestas públicas – onde mais da metade do desmatamento em 2021 ocorreu – é um caminho que deve ser seguido em conjunto com o fortalecimento do controle e fiscalização dos processos.
São as falhas nos serviços de monitoramento e controle florestal, somadas a fragilidades nos sistemas de rastreabilidade e due diligence, que permitem a introdução parte da madeira de origem ilegal no mercado. Além dos danos ao meio ambiente, isso traz prejuízos econômicos ao setor devido à competição desleal e à degradação da imagem. Para trazer mais segurança e credibilidade ao mercado, algumas inovações nos métodos de controle foram apresentados ao público da Carrefour International du Bois 2022, a maior feira internacional do setor madeireiro, realizada em Nantes, na França, no início de junho.
Métodos de controle
Em comum, as soluções são baseadas em técnicas de análise direta da madeira, e não apenas na análise de documentos. Algumas visam identificar a espécie, como as análises de anatomia da madeira ou o uso de frequências de onda no infravermelho próximo, mas não indicam a origem. Outras ajudam a determinar a origem mas não a espécie, no caso da análise de isótopos, e com resolução espacial limitada, dado que depende do gradiente gerado pelo próprio ambiente – o que não evitaria a mistura de madeira de áreas muito próximas. Já o sistema por perfilamento genético individual (DNA profiling) permite a comprovação da origem da madeira desde sua fonte primária – a árvore.
Esta solução é brasileira e vem sendo aprimorada por meio de uma parceria entre a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, e o consórcio formado pelas empresas GenomaA Biotech, BRFLOR e Blue Timber Florestal. De forma similar a análises forenses e testes de paternidade em humanos, por exemplo, cada árvore é tratada como um indivíduo, e tem seus dados e seu perfil genético associados a um sistema de gerenciamento de informações de origem. Ou seja, o perfil genético individual passa a ser uma camada a mais de informação, aumentando a segurança da origem e permitindo a verificação em qualquer ponto da cadeia da madeira sólida.
O tema também será debatido no 9º Congresso Florestal Brasileiro, que ocorre de 12 a 15 de julho de 2022. “Sistemas e soluções para monitoramento do uso de produtos florestais” é uma das sessões técnicas do evento promovido pela Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF) e pela Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), que busca colocar em discussão o uso sustentável e a conservação das florestas com desenvolvimento social e econômico.
* Alexsandro Vanin é Líder de Comunicação da TMNH Holding e Fernanda Pereira é Líder de Pesquisa e Desenvolvimento na GenomaA Biotech