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Startup mapeia DNA da madeira para reduzir ilegalidades na Amazônia

Nascida em meio a sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo.

Mariana Grilli | 12 Mai 2021 – 08h53 Atualizado em 14 Mai 2021 – 11h23

Seis mil árvores colhidas no Pará estão no processo de ter seu DNA sequenciado. Com a finalidade de criar um perfil genético que possibilite a rastreabilidade de cada tora em qualquer lugar do mundo, esta é a primeira operação da GenonaA Biotech, startup brasileira com sede em Piracicaba (SP) e que anuncia a inauguração de seu laboratório neste mês de maio.

Nascida em meio a uma sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo. Pedro Dias, diretor de inovação, explica que o importador quer ter segurança de que o produto seja exportado com autorização de atividade extrativista e origem do plano de manejo.

Na foto, a placa de metal é a identificação no toco com a numeração da árvore. Quando a rastreablidade é aplicada dentro da área de manejo, cada árvore cortada é identificada com uma plaquinha de metal e a tora e amostra seguem com etiquetas da mesma numeração. Com acesso à internet, as informações são armazenadas em nuvem sem risco de violação. (Foto: Divulgação/GenomaA Biotech)

A partir da derrubada da árvore, é coletada uma amostra de cada tora, que recebe um código único no sistema. Uma placa de metal é colocada na tora com a numeração da árvore e, então, tora e amostra seguem com etiquetas com o mesmo número.

“O código é colocado na nuvem no momento da coleta através de um aplicativo conectado à internet”, explica Dias. A partir dali começa o acompanhamento em tempo real. Com o celular, é possível ler os códigos e ter acesso a todas as informações de rastreabilidade, chegando até o ponto exato onde está localizado o toco da árvore que deu origem à madeira.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”

Pedro Dias, diretor de inovação da GenomaA Biotec

Em um tubo com código de barras, a amostra é encaminhada para o escritório de apoio da startup, em Santarém, e então checado novamente sem intervenção manual. Quando a madeira é entregue pela transportadora, os códigos são conferidos mais uma vez.

“No final, o que é expedido é muito parecido com um teste de paternidade, em que é emitido um laudo referente à individualização daquela espécie. Esse documento é emitido e também disponibilizado em nuvem, de maneira que não pode ser burlado e o importador consegue acompanhar todo o fluxo”, detalha.

Dias conta que, por enquanto, a startup deve priorizar espécies de exportação, pois têm valor de mercado maior e mais facilidade de embutir o custo de tecnologia na cadeia de valor. Além disso, estão sob maior pressão por transparência. São elas: Ipê, Cumarú, Cumarú amarelo, Tatajuba, Jatobá e Angelim-vermelho.

Ele revela que a GenonaA Biotech cobra R$ 120 por amostra e considera o custo acessível. “Se você pensar no mercado de exportação, o metro de ipê está aproximadamente US$ 3 mil. Então, é plenamente viável do ponto de vista econômico e acessível para boa parte do setor madeireiro”, avalia.

Ilegalidades

Pedro Dias admite que, nos últimos dois anos, o setor madeireiro tem sofrido muita pressão por conta do desmatamento, “quando nem sempre é o ator”. Por isso, ele acredita que o DNA da madeira é promissor por separar quem trabalha dentro da legalidade e aqueles que burlam o sistema.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”, diz.

Ele exemplifica que há casos em que são alegados 20 metros de madeira quando, na verdade há 10 metros, ou ainda uma empresa ter 100 árvores, mas informar 150. “Aí já começa o inventário de forma errada”, lamenta.

Com este sistema de DNA, Dias afirma que problemas assim devem deixar de existir, pois se a madeira que chega ao importador não tiver um código de rastreamento ou não corresponder ao lote certo, logo será identificado pelos dados em blockchain.

“Se existe uma fiscalização e o agente está em dúvida se aquela madeira apreendida realmente adveio de determinada árvore, verificando a origem no plano de manejo com o lote e o DNA é possível descobrir”. E continua. “Se você tem uma árvore de 10 metros que deu três toras, mas a pessoa alega quatro, eu extraio o DNA das quatro, mas uma delas não vai dar certo. Não tem como mentir. Se alego a origem e não dá ‘match’, tem algo errado ali”, afirma.

Expectativas

Os planos de manejo são aprovados entre o final de abril e junho e, em julho, deve começar a retirada das madeiras. Por isso, a startup se prepara para um volume crescente de trabalho ainda em 2021, com previsão de atender 18 mil árvores.

Exemplo de tubete onde é inserida e guardada a amostra das madeiras que terão o DNA analisado. O código de barras é relacionado à árvore e ao lote cuja árvore foi colhida e as informações são disponibilizadas em tempo real (Foto: Reprodução/GenomaA Biotech)

Atualmente, Dias conta que a empresa tem capacidade de processar 1.536 amostras a cada três horas, o que significa, segundo ele, condições de atender metade de toda a madeira que é extraída da Amazônia. Mas há um porém: “Em termos de diversidade genética, não é possível fazer todas as espécies, porque não são conhecidas todas as genéticas.”

A empresa trabalha com lotes de 380 amostras, que são feitas dentro de 48 horas. Com infraestrutura laboratorial própria, o diretor da GenomaA Biotech quer desmistificar a impressão de que a descoberta do DNA é caro, demorado e difícil de fazer.

Dias revela que os importadores dos atuais clientes estão na expectativa de receber os dados de amostras e toda a rastreabilidade, algo previsto para os próximos dois meses. “O cardápio foi divulgado, mas ainda não receberam o prato. A expectativa é grande”, brinca.

Enquanto isso, já surgem demandas do setor que atua no Acre e também conversas com o setor público, como secretarias de meio ambiente e agências fiscalizadoras, a exemplo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Fonte: https://revistagloborural.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/05/startup-mapeia-dna-da-madeira-para-reduzir-ilegalidades-na-amazonia.html