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A emergência de construir um modelo econômico baseado em baixa emissão de carbono acelera procura por negócios que combinem lucro e preservação ambiental.

Por Luciano Feltrin

A popularização das práticas ESG, aliada à firme convicção de que o planeta precisa caminhar em busca de uma economia de baixo carbono, ampliou o senso de urgência do segmento corporativo e vem acelerando a procura por negócios que combinem lucro e preservação ambiental.

A sensação de que é preciso pressionar o reset, acelerada com a pandemia, fez com que duas vertentes desse novo capitalismo em transformação – bioeconomia e economia circular -, ganhassem destaque.

E oportunidades não faltam, conforme mostra um estudo divulgado recentemente pela plataforma de inovação multissetorial Climate Ventures.

O levantamento mapeia sete setores-chave: agropecuária; florestas e uso do solo; indústria, logística e mobilidade; energia e biocombustíveis; gestão de resíduos; e água e saneamento e mostra, na prática, que, mais do que mitigar riscos, é possível gerar impactos reais em toda a cadeia de stakeholders, explica Daniel Contrucci, cofundador da Climate Ventures.

“Não se deve confundir a agenda ESG com a agenda de impacto positivo. Isso pode abrir uma enorme brecha para que aconteça uma onda de greenwashing gigantesca. Para diferenciar, é preciso entender que a agenda ESG tem como objetivo expandir a análise de risco na empresa, contabilizando também os riscos ambientais. É uma obrigação corporativa. Já a ideia de gerar impacto é mais ampla e tem como objetivo trazer benefícios à sociedade e ao planeta”, afirma. 

Daniel Contrucci | Cofundador da Climate Ventures

NEGÓCIOS COMO SOLUÇÕES

No estudo, a Climate Ventures identificou também algumas das principais tendências globais de negócios. São nelas que estão oportunidades que podem servir como soluções para problemas ambientais que estão dados.

Uma dessas frentes – rastreabilidade –, tenta dar conta de uma pressão, cada vez maior, de compradores de madeira brasileira que querem conhecer a procedência do produto.

A GenomaA Biotech surgiu para explorar esse filão. É pioneira no uso do rastreamento de DNA e conta com laboratórios no Vale do Piracicaba, considerado por muitos especialistas o maior polo tecnológico do agronegócio do País.

“Nascemos de uma busca no setor florestal para uma Amazônia possível. Grandes problemas relativos à floresta em pé estão ligados à degradação e ao desmatamento e à madeira ilegal. Nossa proposta foi desenvolver uma ferramenta que oferecesse ao gestor de ativos florestais rastreabilidade genética e, portanto, inquestionável”, assegura David Escaquete, diretor comercial da startup. A empresa trabalha com a já consagrada técnica utilizada em testes de reconhecimento de paternidade para investigar se toras são de árvores cujo manejo foi feito legalmente.  Graças ao uso intensivo de tecnologia e bioinformática aplicadas, é possível ampliar o fluxo de madeira testado em laboratórios, o que reduz custos com insumos aplicados no processo, trazendo economia e agilidade à identificação.

David Escaquete | Diretor Comercial GenomaA Biotech

AÇAÍ SUSTENTÁVEL

Outra empresa que nasceu usando a lógica de que preservação da natureza, impactos sociais e ganhos econômicos devem fazer parte de um mesmo sistema foi a Juçaí, cujo negócio é extrair açaí de Juçara, espécie em extinção, devido à extração ilegal de seu palmito, na Mata Atlântica.

Desde 2009, a companhia já replantou mais de 650 mil unidades da Palmeira, em especial no Espírito Santo e no Paraná.

“No que diz respeito à geração de empregos às comunidades locais, também há vantagens. Cerca de mil famílias, ligadas às cooperativas de prestação de serviços, são contratadas para o processo de colheita. O trabalho exige perícia. Os nativos escalam as palmeiras e retiram, com cuidado, os cachos de frutos. Tudo para deixar cerca de 1/3 das frutas intocáveis no bioma para que a fauna se alimente. Desse fruto, é extraída a polpa e a semente é usada em novos plantios. “A Juçara é a palmeira símbolo da Mata Atlântica. Nosso objetivo, desde o começo, foi criar um produto que ajudasse e incentivasse a preservação dela e da região, como consequência”, lembra Bruno Correia, gerente geral da Juçaí.

Bruno Correia | Gerente Geral da Juçaí

Para Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), além de eliminar desmatamento ilegal, ponto fundamental para que o país receba recursos internacionais, há grandes oportunidades de desenvolvimento de negócios sustentáveis ainda inexploradas, como o mercado de créditos de carbono, por exemplo.

“O Brasil leva grande vantagem comparativa em relação a outros países para retirar CO2 da atmosfera, com mudanças no uso da terra. Os outros países precisam investir muito mais em tecnologia para cumprirem suas metas de redução de emissão. É uma opção barata que podemos ter para que eles cumpram seus compromissos.”

MUDANÇA DE PARADIGMA

Além da bioeconomia, cuja lógica central é obter lucros com a floresta em pé, outro modelo que vem ocupando espaço crescente quando se trata da construção de um novo capitalismo é o da economia circular.

Trata-se de uma completa mudança de paradigma. Coloca em xeque o modelo atual, baseado no tripé extrair, fabricar e descartar. E propõe a reutilização de tudo que for possível, em novos processos.

Um estudo recente da PwC mostra que, junto com a automação, digitalização e a ampliação do trabalho remoto, aceleradas durante a pandemia, o uso de recursos naturais e de energias limpas são algumas das tendências atuais e futuras de negócios. Parece ainda mais oportuno num momento em que a história se repete e, mais uma vez, a escassez de chuvas se torna ameaça de apagão. O que certamente significará contas de luz mais salgadas.

Segundo a PwC, no Brasil, a economia circular pode ser aplicada ainda para reduzir desperdícios ao longo da cadeia produtiva, dadas as dimensões continentais do país.

Ainda há, portanto, um longo caminho a ser percorrido pelo setor privado, com muitos desafios à frente. Quem, no entanto, for capaz de cruzar essas barreiras ajudará a preservar o planeta e abrirá caminhos para um capitalismo repleto de oportunidades, e mais consciente.

Fonte: https://assine.experienceclub.com.br/bioeconomia/

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Sob pressão do mercado, certificação no país cresce junto com exportações

Analistas dizem que o avanço reflete maior conscientização dos compradores e um esforço dos produtores para lidar com a imagem negativa no exterior.

Por Ana Conceição | De São Paulo

As exportações brasileiras de madeira dispararam nos últimos dez anos e embora a venda externa em si não exija comprovação de boas práticas de manejo, a área de florestas certificadas no país aumentou 40% no período. Analistas dizem que o avanço na certificação reflete a maior conscientização dos compradores e também um esforço dos produtores para lidar com a imagem negativa do país no exterior. Boa parte da madeira certificada vai para fora do país.

Daniela Viela, diretora-executiva do Forest Stewardship Council (FSC) no Brasil, uma organização independente criada para promover o manejo florestal responsável no mundo,diz que o crescimento da área de florestas certificadas responde a exigências dos compradores de madeira e produtos derivados, que não querem correr o risco de se verem envolvidos em denúncias de desmatamento. “Existe uma conscientização dos compradores,mas também um receio maior. É uma reação a essa imagem negativa [do Brasil]”, afirma a executiva. Muitos países, diz, têm apertado as regras para a importação de madeira sem respaldo de boas práticas ambientais do vendedor. “A certificação acaba sendo uma forma de garantir matéria-prima proveniente de áreas com manejo responsável”.

Grande parte da área certificada no Brasil (cerca de 80%) é de espécies consideradas“exóticas”, principalmente pinus e eucalipto e, em menor escala, teca. Florestas de árvores tropicais nativas respondem por apenas 20%, a maior parte na Amazônia. O crescimento de40% dessa área nos últimos dez anos foi puxado pelas plantações de espécies exóticas, que passaram de 2,7 milhões para 5,9 milhões de hectares, enquanto a área de florestas nativas caiu de 2,2 milhões para 1,26 milhão de hectares.

Vilela pondera que a queda foi provocada pela saída de duas grandes áreas – uma indígena,outra comercial – mas que mais recentemente tem havido uma retomada de novas áreas nativas certificadas. Na comparação de janeiro deste ano, com janeiro do ano passado, houve um acréscimo de 17%, ou 224,7 mil hectares. A área de plantio exótico aumentou 2% no mesmo período.

Quanto às exportações, o Brasil viu suas vendas de madeira bruta passarem de 10,8 mil em2010 para 1,37 milhão de toneladas em 2020, com uma demanda crescente da China e da Índia, de acordo com dados do Comex Stat, do Ministério da Economia.

São basicamente vendas de madeira exótica, uma vez que não é permitido exportar madeira bruta de árvores nativas. As vendas de outros produtos, que podem ser feitos de madeira nativa, também cresceram. As de manufaturas de madeira aumentaram de 250 mil para 350mil toneladas nesse período de dez anos e as de madeira parcialmente trabalhada, de 338 mil para 676 mil toneladas. As duas últimas categorias são vendidas sobretudo nos EUA e Europa.

Ricardo Tamanho, sócio-proprietário da Blue Timber Florestal, que tem uma área de manejo certificada no Pará, diz que “a dor do setor” é a falta de credibilidade. “O importador de madeira que ter certeza de que a madeira é certificada”, diz, observando que só a apresentação de documentos exigidos pelo governo brasileiro na exportação não tem sido suficiente. Com a demanda por certificação e rastreabilidade, o empresário criou um software de manejo florestal, BRFlor, que permite a rastreabilidade da madeira, e a GenomaA, que permite a rastreabilidade por DNA.

Tamanho vê aquecidos os mercados interno e externo de madeira, por investimentos na construção civil e em infraestrutura. “Incentivos concedidos por vários países para aquecer a economia por causa da pandemia estão criando demanda nesses setores.”

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/05/24/sob-pressao-do-mercado-certificacao-no-pais-cresce-junto-com-exportacoes.ghtml

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Carbono neutro, não. Carbono neutro, não.

Na esteira da necessidade da comprovação das boas práticas, surgem no mercado startups com vocação para ajudar o agronegócio, caso da GenomaA Biotech.

Lana Pinheiro | 22/06/21 – 16h09

Lenha, estacas, moirões, dormentes, carvão vegetal, chapas de fibras e de partículas, movelaria, energia, medicamentos, serrados, laminados, celulose e papel. A lista dos subprodutos do eucalipto e do pinus é longa, mas além da diversidade do uso, as florestas de árvores são também sustentáveis e um bom negócio. Com 9 milhões de hectares de áreas plantadas, 4,7 milhões deles certificados, o setor capturou cerca de 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019 e garantiu receita de R$ 97,4 bilhões em 2020, crescimento de 12,5% em relação ao ano anterior. Boa parte vem do saldo da balança comercial, que chegou a US$ 10,3 bilhões, o segundo melhor resultado dos últimos 10 anos. Os dados são da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). “Na indústria florestal, as boas práticas ambientais sempre foram condições básicas para o sucesso do negócio, mas agora as informações estão mais estruturadas e servindo à tomada de decisões”, afirmou Marcelo Schmid, sócio diretor no Grupo Index.

Mesmo com as dificuldades de 2020 o setor gerou receita de R$ 97,4 bilhões

O começo da plantação em escala no Brasil é incerto. Com mais de 700 espécies conhecidas, registros apontam que as primeiras culturas de eucalipto por aqui datam de 1868, no Sul do País. A cultura de pinus, mais recente, é da década de 1960, no Sul e Sudeste. E foi nos estados sulistas que a produção comercial primeiro se estabeleceu. O local não foi aleatório. De acordo com Schmid, nos anos 60 houve um esforço conjunto da região para o desenvolvimento da indústria com ações como isenção de impostos para investidores e a criação do primeiro curso de engenharia florestal do País, na então Universidade Federal do Paraná. De lá para cá, o setor passou por diversas fases. Salta aos olhos a mudança do modelo exploratório para o sustentável. “Cerca de 5% da Mata Atlântica chegou a ser devastada e tivemos muito uso de nota fria para comercialização da madeira ilegal, mas na virada do milênio o cenário mudou”, disse o sócio diretor do Grupo Index.

Com 9 milhões de hectares plantados setor capturou 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019

Impulsionado pela necessidade de maior produtividade, menor custo e alinhamento às boas práticas sustentáveis, o setor restaurou mais de 32,7 mil hectares e preservou outros 6 milhões de áreas nativas. Na Klabin, uma das maiores da indústria, são 258 mil hectares de floresta plantada para fins industriais e 248 mil de áreas nativas. Além disso, a plantação é feita em forma de mosaico, permitindo a criação de corredores de conservação da biodiversidade. Pelos relatos da empresa, em suas terras existem mais de 2 mil espécies de flora, 900 de fauna e um balanço de carbono de 4,7 milhões de toneladas (2019). Para garantir alinhamento dos fornecedores, que hoje participam com 30% das madeiras utilizadas no processo produtivo, a Klabin tem a meta de ter toda a cadeia certificada com o selo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) até 2030. “Exigimos uma atuação responsável, com respeito à comunidade, aos trabalhadores e uso racional dos recursos naturais”, afirmou Júlio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e de Meio Ambiente da companhia. Tudo para garantir a perenidade dos negócios no longo prazo e a atratividade perante os mercados compradores que estão preferindo adquirir produtos renováveis, recicláveis e biodegradáveis. “O ser humano está mais consciente e sustentável no seu consumo”, afirmou Nogueira.

Neste mesmo caminho está a Suzano, que após a fusão com a Fibria se tornou a maior produtora de celulose do mundo. Com investimentos de R$ 300 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento, a companhia está buscando novas tecnologias para ser mais produtiva, bem como para oferecer produtos alternativos aos de origem fóssil. “O grande desafio é fazer com que a celulose seja usada para a produção de outras mercadorias que não o papel”, disse Marcelo Bacci, diretor executivo de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da empresa. Na lista de possibilidades estão energia, tecidos e substitutos do plástico. Além de novos produtos, a Suzano já anunciou compromisso público de capturar 40 milhões de toneladas de CO2 nos próximos dez anos. “Em nosso setor não há dicotomia entre eficiência e ESG. Quanto mais ambientalmente correto você é, mais eficiência você ganha”, afirmou Bacci. Tudo isso em paralelo com a atividade core, que acaba de ganhar reforço de uma nova fábrica com capacidade de produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose no ano, fruto de um plano de investimento de R$ 14,7 bilhões no Mato Grosso do Sul.

Na esteira da necessidade da comprovação das boas práticas, surgem no mercado startups com vocação para ajudar o agronegócio. Como o caso da GenomaA Biotech, especializada em rastrear toras por meio do DNA da madeira. “O setor madeireiro tem uma mácula de seis décadas de ligação com ilegalidades e desmatamento”, afirmou Pedro Dias, diretor de Inovação da empresa. O executivo tem razão. Ainda que o setor profissional esteja cada vez mais alinhado com os princípios sustentáveis, a ilegalidade acaba manchando a reputação. Em seu último levantamento (2018), o Imazon pontuou que o desmatamento em áreas não autorizadas no Pará era duas vezes maior do que em áreas autorizadas: 27 mil hectares contra 11 mil hectares. No Mato Grosso, apesar de as áreas autorizadas serem maiores, a taxa de ilegalidade ainda é alta. Em 2019, dos 217 mil hectares explorados, 37% foram em áreas sem autorização. Problemas que podem ser até pontuais, mas com potencial impacto devastador sobre um setor que poderia levar o País à liderança da economia verde.

Fonte: https://www.dinheirorural.com.br/carbono-neutro-nao-carbono-neutro-nao/

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Startup mapeia DNA da madeira para reduzir ilegalidades na Amazônia

Nascida em meio a sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo.

Mariana Grilli | 12 Mai 2021 – 08h53 Atualizado em 14 Mai 2021 – 11h23

Seis mil árvores colhidas no Pará estão no processo de ter seu DNA sequenciado. Com a finalidade de criar um perfil genético que possibilite a rastreabilidade de cada tora em qualquer lugar do mundo, esta é a primeira operação da GenonaA Biotech, startup brasileira com sede em Piracicaba (SP) e que anuncia a inauguração de seu laboratório neste mês de maio.

Nascida em meio a uma sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo. Pedro Dias, diretor de inovação, explica que o importador quer ter segurança de que o produto seja exportado com autorização de atividade extrativista e origem do plano de manejo.

Na foto, a placa de metal é a identificação no toco com a numeração da árvore. Quando a rastreablidade é aplicada dentro da área de manejo, cada árvore cortada é identificada com uma plaquinha de metal e a tora e amostra seguem com etiquetas da mesma numeração. Com acesso à internet, as informações são armazenadas em nuvem sem risco de violação. (Foto: Divulgação/GenomaA Biotech)

A partir da derrubada da árvore, é coletada uma amostra de cada tora, que recebe um código único no sistema. Uma placa de metal é colocada na tora com a numeração da árvore e, então, tora e amostra seguem com etiquetas com o mesmo número.

“O código é colocado na nuvem no momento da coleta através de um aplicativo conectado à internet”, explica Dias. A partir dali começa o acompanhamento em tempo real. Com o celular, é possível ler os códigos e ter acesso a todas as informações de rastreabilidade, chegando até o ponto exato onde está localizado o toco da árvore que deu origem à madeira.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”

Pedro Dias, diretor de inovação da GenomaA Biotec

Em um tubo com código de barras, a amostra é encaminhada para o escritório de apoio da startup, em Santarém, e então checado novamente sem intervenção manual. Quando a madeira é entregue pela transportadora, os códigos são conferidos mais uma vez.

“No final, o que é expedido é muito parecido com um teste de paternidade, em que é emitido um laudo referente à individualização daquela espécie. Esse documento é emitido e também disponibilizado em nuvem, de maneira que não pode ser burlado e o importador consegue acompanhar todo o fluxo”, detalha.

Dias conta que, por enquanto, a startup deve priorizar espécies de exportação, pois têm valor de mercado maior e mais facilidade de embutir o custo de tecnologia na cadeia de valor. Além disso, estão sob maior pressão por transparência. São elas: Ipê, Cumarú, Cumarú amarelo, Tatajuba, Jatobá e Angelim-vermelho.

Ele revela que a GenonaA Biotech cobra R$ 120 por amostra e considera o custo acessível. “Se você pensar no mercado de exportação, o metro de ipê está aproximadamente US$ 3 mil. Então, é plenamente viável do ponto de vista econômico e acessível para boa parte do setor madeireiro”, avalia.

Ilegalidades

Pedro Dias admite que, nos últimos dois anos, o setor madeireiro tem sofrido muita pressão por conta do desmatamento, “quando nem sempre é o ator”. Por isso, ele acredita que o DNA da madeira é promissor por separar quem trabalha dentro da legalidade e aqueles que burlam o sistema.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”, diz.

Ele exemplifica que há casos em que são alegados 20 metros de madeira quando, na verdade há 10 metros, ou ainda uma empresa ter 100 árvores, mas informar 150. “Aí já começa o inventário de forma errada”, lamenta.

Com este sistema de DNA, Dias afirma que problemas assim devem deixar de existir, pois se a madeira que chega ao importador não tiver um código de rastreamento ou não corresponder ao lote certo, logo será identificado pelos dados em blockchain.

“Se existe uma fiscalização e o agente está em dúvida se aquela madeira apreendida realmente adveio de determinada árvore, verificando a origem no plano de manejo com o lote e o DNA é possível descobrir”. E continua. “Se você tem uma árvore de 10 metros que deu três toras, mas a pessoa alega quatro, eu extraio o DNA das quatro, mas uma delas não vai dar certo. Não tem como mentir. Se alego a origem e não dá ‘match’, tem algo errado ali”, afirma.

Expectativas

Os planos de manejo são aprovados entre o final de abril e junho e, em julho, deve começar a retirada das madeiras. Por isso, a startup se prepara para um volume crescente de trabalho ainda em 2021, com previsão de atender 18 mil árvores.

Exemplo de tubete onde é inserida e guardada a amostra das madeiras que terão o DNA analisado. O código de barras é relacionado à árvore e ao lote cuja árvore foi colhida e as informações são disponibilizadas em tempo real (Foto: Reprodução/GenomaA Biotech)

Atualmente, Dias conta que a empresa tem capacidade de processar 1.536 amostras a cada três horas, o que significa, segundo ele, condições de atender metade de toda a madeira que é extraída da Amazônia. Mas há um porém: “Em termos de diversidade genética, não é possível fazer todas as espécies, porque não são conhecidas todas as genéticas.”

A empresa trabalha com lotes de 380 amostras, que são feitas dentro de 48 horas. Com infraestrutura laboratorial própria, o diretor da GenomaA Biotech quer desmistificar a impressão de que a descoberta do DNA é caro, demorado e difícil de fazer.

Dias revela que os importadores dos atuais clientes estão na expectativa de receber os dados de amostras e toda a rastreabilidade, algo previsto para os próximos dois meses. “O cardápio foi divulgado, mas ainda não receberam o prato. A expectativa é grande”, brinca.

Enquanto isso, já surgem demandas do setor que atua no Acre e também conversas com o setor público, como secretarias de meio ambiente e agências fiscalizadoras, a exemplo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Fonte: https://revistagloborural.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/05/startup-mapeia-dna-da-madeira-para-reduzir-ilegalidades-na-amazonia.html