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Carbono neutro, não. Carbono neutro, não.

Na esteira da necessidade da comprovação das boas práticas, surgem no mercado startups com vocação para ajudar o agronegócio, caso da GenomaA Biotech.

Lana Pinheiro | 22/06/21 – 16h09

Lenha, estacas, moirões, dormentes, carvão vegetal, chapas de fibras e de partículas, movelaria, energia, medicamentos, serrados, laminados, celulose e papel. A lista dos subprodutos do eucalipto e do pinus é longa, mas além da diversidade do uso, as florestas de árvores são também sustentáveis e um bom negócio. Com 9 milhões de hectares de áreas plantadas, 4,7 milhões deles certificados, o setor capturou cerca de 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019 e garantiu receita de R$ 97,4 bilhões em 2020, crescimento de 12,5% em relação ao ano anterior. Boa parte vem do saldo da balança comercial, que chegou a US$ 10,3 bilhões, o segundo melhor resultado dos últimos 10 anos. Os dados são da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). “Na indústria florestal, as boas práticas ambientais sempre foram condições básicas para o sucesso do negócio, mas agora as informações estão mais estruturadas e servindo à tomada de decisões”, afirmou Marcelo Schmid, sócio diretor no Grupo Index.

Mesmo com as dificuldades de 2020 o setor gerou receita de R$ 97,4 bilhões

O começo da plantação em escala no Brasil é incerto. Com mais de 700 espécies conhecidas, registros apontam que as primeiras culturas de eucalipto por aqui datam de 1868, no Sul do País. A cultura de pinus, mais recente, é da década de 1960, no Sul e Sudeste. E foi nos estados sulistas que a produção comercial primeiro se estabeleceu. O local não foi aleatório. De acordo com Schmid, nos anos 60 houve um esforço conjunto da região para o desenvolvimento da indústria com ações como isenção de impostos para investidores e a criação do primeiro curso de engenharia florestal do País, na então Universidade Federal do Paraná. De lá para cá, o setor passou por diversas fases. Salta aos olhos a mudança do modelo exploratório para o sustentável. “Cerca de 5% da Mata Atlântica chegou a ser devastada e tivemos muito uso de nota fria para comercialização da madeira ilegal, mas na virada do milênio o cenário mudou”, disse o sócio diretor do Grupo Index.

Com 9 milhões de hectares plantados setor capturou 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019

Impulsionado pela necessidade de maior produtividade, menor custo e alinhamento às boas práticas sustentáveis, o setor restaurou mais de 32,7 mil hectares e preservou outros 6 milhões de áreas nativas. Na Klabin, uma das maiores da indústria, são 258 mil hectares de floresta plantada para fins industriais e 248 mil de áreas nativas. Além disso, a plantação é feita em forma de mosaico, permitindo a criação de corredores de conservação da biodiversidade. Pelos relatos da empresa, em suas terras existem mais de 2 mil espécies de flora, 900 de fauna e um balanço de carbono de 4,7 milhões de toneladas (2019). Para garantir alinhamento dos fornecedores, que hoje participam com 30% das madeiras utilizadas no processo produtivo, a Klabin tem a meta de ter toda a cadeia certificada com o selo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) até 2030. “Exigimos uma atuação responsável, com respeito à comunidade, aos trabalhadores e uso racional dos recursos naturais”, afirmou Júlio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e de Meio Ambiente da companhia. Tudo para garantir a perenidade dos negócios no longo prazo e a atratividade perante os mercados compradores que estão preferindo adquirir produtos renováveis, recicláveis e biodegradáveis. “O ser humano está mais consciente e sustentável no seu consumo”, afirmou Nogueira.

Neste mesmo caminho está a Suzano, que após a fusão com a Fibria se tornou a maior produtora de celulose do mundo. Com investimentos de R$ 300 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento, a companhia está buscando novas tecnologias para ser mais produtiva, bem como para oferecer produtos alternativos aos de origem fóssil. “O grande desafio é fazer com que a celulose seja usada para a produção de outras mercadorias que não o papel”, disse Marcelo Bacci, diretor executivo de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da empresa. Na lista de possibilidades estão energia, tecidos e substitutos do plástico. Além de novos produtos, a Suzano já anunciou compromisso público de capturar 40 milhões de toneladas de CO2 nos próximos dez anos. “Em nosso setor não há dicotomia entre eficiência e ESG. Quanto mais ambientalmente correto você é, mais eficiência você ganha”, afirmou Bacci. Tudo isso em paralelo com a atividade core, que acaba de ganhar reforço de uma nova fábrica com capacidade de produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose no ano, fruto de um plano de investimento de R$ 14,7 bilhões no Mato Grosso do Sul.

Na esteira da necessidade da comprovação das boas práticas, surgem no mercado startups com vocação para ajudar o agronegócio. Como o caso da GenomaA Biotech, especializada em rastrear toras por meio do DNA da madeira. “O setor madeireiro tem uma mácula de seis décadas de ligação com ilegalidades e desmatamento”, afirmou Pedro Dias, diretor de Inovação da empresa. O executivo tem razão. Ainda que o setor profissional esteja cada vez mais alinhado com os princípios sustentáveis, a ilegalidade acaba manchando a reputação. Em seu último levantamento (2018), o Imazon pontuou que o desmatamento em áreas não autorizadas no Pará era duas vezes maior do que em áreas autorizadas: 27 mil hectares contra 11 mil hectares. No Mato Grosso, apesar de as áreas autorizadas serem maiores, a taxa de ilegalidade ainda é alta. Em 2019, dos 217 mil hectares explorados, 37% foram em áreas sem autorização. Problemas que podem ser até pontuais, mas com potencial impacto devastador sobre um setor que poderia levar o País à liderança da economia verde.

Fonte: https://www.dinheirorural.com.br/carbono-neutro-nao-carbono-neutro-nao/

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Startup mapeia DNA da madeira para reduzir ilegalidades na Amazônia

Nascida em meio a sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo.

Mariana Grilli | 12 Mai 2021 – 08h53 Atualizado em 14 Mai 2021 – 11h23

Seis mil árvores colhidas no Pará estão no processo de ter seu DNA sequenciado. Com a finalidade de criar um perfil genético que possibilite a rastreabilidade de cada tora em qualquer lugar do mundo, esta é a primeira operação da GenonaA Biotech, startup brasileira com sede em Piracicaba (SP) e que anuncia a inauguração de seu laboratório neste mês de maio.

Nascida em meio a uma sequência de recordes de desmatamento e episódios de ilegalidade na Amazônia, a empresa aposta em rastreabilidade ainda no campo. Pedro Dias, diretor de inovação, explica que o importador quer ter segurança de que o produto seja exportado com autorização de atividade extrativista e origem do plano de manejo.

Na foto, a placa de metal é a identificação no toco com a numeração da árvore. Quando a rastreablidade é aplicada dentro da área de manejo, cada árvore cortada é identificada com uma plaquinha de metal e a tora e amostra seguem com etiquetas da mesma numeração. Com acesso à internet, as informações são armazenadas em nuvem sem risco de violação. (Foto: Divulgação/GenomaA Biotech)

A partir da derrubada da árvore, é coletada uma amostra de cada tora, que recebe um código único no sistema. Uma placa de metal é colocada na tora com a numeração da árvore e, então, tora e amostra seguem com etiquetas com o mesmo número.

“O código é colocado na nuvem no momento da coleta através de um aplicativo conectado à internet”, explica Dias. A partir dali começa o acompanhamento em tempo real. Com o celular, é possível ler os códigos e ter acesso a todas as informações de rastreabilidade, chegando até o ponto exato onde está localizado o toco da árvore que deu origem à madeira.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”

Pedro Dias, diretor de inovação da GenomaA Biotec

Em um tubo com código de barras, a amostra é encaminhada para o escritório de apoio da startup, em Santarém, e então checado novamente sem intervenção manual. Quando a madeira é entregue pela transportadora, os códigos são conferidos mais uma vez.

“No final, o que é expedido é muito parecido com um teste de paternidade, em que é emitido um laudo referente à individualização daquela espécie. Esse documento é emitido e também disponibilizado em nuvem, de maneira que não pode ser burlado e o importador consegue acompanhar todo o fluxo”, detalha.

Dias conta que, por enquanto, a startup deve priorizar espécies de exportação, pois têm valor de mercado maior e mais facilidade de embutir o custo de tecnologia na cadeia de valor. Além disso, estão sob maior pressão por transparência. São elas: Ipê, Cumarú, Cumarú amarelo, Tatajuba, Jatobá e Angelim-vermelho.

Ele revela que a GenonaA Biotech cobra R$ 120 por amostra e considera o custo acessível. “Se você pensar no mercado de exportação, o metro de ipê está aproximadamente US$ 3 mil. Então, é plenamente viável do ponto de vista econômico e acessível para boa parte do setor madeireiro”, avalia.

Ilegalidades

Pedro Dias admite que, nos últimos dois anos, o setor madeireiro tem sofrido muita pressão por conta do desmatamento, “quando nem sempre é o ator”. Por isso, ele acredita que o DNA da madeira é promissor por separar quem trabalha dentro da legalidade e aqueles que burlam o sistema.

“O problema da ilegalidade é muito mais complexo do que a gente imagina, mas se pudesse resumir seriam dois: superestimação de volume de madeira e árvores que não existem”, diz.

Ele exemplifica que há casos em que são alegados 20 metros de madeira quando, na verdade há 10 metros, ou ainda uma empresa ter 100 árvores, mas informar 150. “Aí já começa o inventário de forma errada”, lamenta.

Com este sistema de DNA, Dias afirma que problemas assim devem deixar de existir, pois se a madeira que chega ao importador não tiver um código de rastreamento ou não corresponder ao lote certo, logo será identificado pelos dados em blockchain.

“Se existe uma fiscalização e o agente está em dúvida se aquela madeira apreendida realmente adveio de determinada árvore, verificando a origem no plano de manejo com o lote e o DNA é possível descobrir”. E continua. “Se você tem uma árvore de 10 metros que deu três toras, mas a pessoa alega quatro, eu extraio o DNA das quatro, mas uma delas não vai dar certo. Não tem como mentir. Se alego a origem e não dá ‘match’, tem algo errado ali”, afirma.

Expectativas

Os planos de manejo são aprovados entre o final de abril e junho e, em julho, deve começar a retirada das madeiras. Por isso, a startup se prepara para um volume crescente de trabalho ainda em 2021, com previsão de atender 18 mil árvores.

Exemplo de tubete onde é inserida e guardada a amostra das madeiras que terão o DNA analisado. O código de barras é relacionado à árvore e ao lote cuja árvore foi colhida e as informações são disponibilizadas em tempo real (Foto: Reprodução/GenomaA Biotech)

Atualmente, Dias conta que a empresa tem capacidade de processar 1.536 amostras a cada três horas, o que significa, segundo ele, condições de atender metade de toda a madeira que é extraída da Amazônia. Mas há um porém: “Em termos de diversidade genética, não é possível fazer todas as espécies, porque não são conhecidas todas as genéticas.”

A empresa trabalha com lotes de 380 amostras, que são feitas dentro de 48 horas. Com infraestrutura laboratorial própria, o diretor da GenomaA Biotech quer desmistificar a impressão de que a descoberta do DNA é caro, demorado e difícil de fazer.

Dias revela que os importadores dos atuais clientes estão na expectativa de receber os dados de amostras e toda a rastreabilidade, algo previsto para os próximos dois meses. “O cardápio foi divulgado, mas ainda não receberam o prato. A expectativa é grande”, brinca.

Enquanto isso, já surgem demandas do setor que atua no Acre e também conversas com o setor público, como secretarias de meio ambiente e agências fiscalizadoras, a exemplo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Fonte: https://revistagloborural.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/05/startup-mapeia-dna-da-madeira-para-reduzir-ilegalidades-na-amazonia.html