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Sob pressão do mercado, certificação no país cresce junto com exportações

Analistas dizem que o avanço reflete maior conscientização dos compradores e um esforço dos produtores para lidar com a imagem negativa no exterior.

Por Ana Conceição | De São Paulo

As exportações brasileiras de madeira dispararam nos últimos dez anos e embora a venda externa em si não exija comprovação de boas práticas de manejo, a área de florestas certificadas no país aumentou 40% no período. Analistas dizem que o avanço na certificação reflete a maior conscientização dos compradores e também um esforço dos produtores para lidar com a imagem negativa do país no exterior. Boa parte da madeira certificada vai para fora do país.

Daniela Viela, diretora-executiva do Forest Stewardship Council (FSC) no Brasil, uma organização independente criada para promover o manejo florestal responsável no mundo,diz que o crescimento da área de florestas certificadas responde a exigências dos compradores de madeira e produtos derivados, que não querem correr o risco de se verem envolvidos em denúncias de desmatamento. “Existe uma conscientização dos compradores,mas também um receio maior. É uma reação a essa imagem negativa [do Brasil]”, afirma a executiva. Muitos países, diz, têm apertado as regras para a importação de madeira sem respaldo de boas práticas ambientais do vendedor. “A certificação acaba sendo uma forma de garantir matéria-prima proveniente de áreas com manejo responsável”.

Grande parte da área certificada no Brasil (cerca de 80%) é de espécies consideradas“exóticas”, principalmente pinus e eucalipto e, em menor escala, teca. Florestas de árvores tropicais nativas respondem por apenas 20%, a maior parte na Amazônia. O crescimento de40% dessa área nos últimos dez anos foi puxado pelas plantações de espécies exóticas, que passaram de 2,7 milhões para 5,9 milhões de hectares, enquanto a área de florestas nativas caiu de 2,2 milhões para 1,26 milhão de hectares.

Vilela pondera que a queda foi provocada pela saída de duas grandes áreas – uma indígena,outra comercial – mas que mais recentemente tem havido uma retomada de novas áreas nativas certificadas. Na comparação de janeiro deste ano, com janeiro do ano passado, houve um acréscimo de 17%, ou 224,7 mil hectares. A área de plantio exótico aumentou 2% no mesmo período.

Quanto às exportações, o Brasil viu suas vendas de madeira bruta passarem de 10,8 mil em2010 para 1,37 milhão de toneladas em 2020, com uma demanda crescente da China e da Índia, de acordo com dados do Comex Stat, do Ministério da Economia.

São basicamente vendas de madeira exótica, uma vez que não é permitido exportar madeira bruta de árvores nativas. As vendas de outros produtos, que podem ser feitos de madeira nativa, também cresceram. As de manufaturas de madeira aumentaram de 250 mil para 350mil toneladas nesse período de dez anos e as de madeira parcialmente trabalhada, de 338 mil para 676 mil toneladas. As duas últimas categorias são vendidas sobretudo nos EUA e Europa.

Ricardo Tamanho, sócio-proprietário da Blue Timber Florestal, que tem uma área de manejo certificada no Pará, diz que “a dor do setor” é a falta de credibilidade. “O importador de madeira que ter certeza de que a madeira é certificada”, diz, observando que só a apresentação de documentos exigidos pelo governo brasileiro na exportação não tem sido suficiente. Com a demanda por certificação e rastreabilidade, o empresário criou um software de manejo florestal, BRFlor, que permite a rastreabilidade da madeira, e a GenomaA, que permite a rastreabilidade por DNA.

Tamanho vê aquecidos os mercados interno e externo de madeira, por investimentos na construção civil e em infraestrutura. “Incentivos concedidos por vários países para aquecer a economia por causa da pandemia estão criando demanda nesses setores.”

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/05/24/sob-pressao-do-mercado-certificacao-no-pais-cresce-junto-com-exportacoes.ghtml