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Checagem da procedência da madeira é aperfeiçoada

Por Andrea Vialli — Para o Valor, de Salvador

Angelim-pedra, cumaru, ipê, cedro e maçaranduba estão entre as madeiras de origem amazônica mais valorizadas pelo mercado – possuem alta resistência e durabilidade, sendo ideais para usos que vão da construção civil e naval à movelaria.

Mas a ampliação do consumo de madeira extraída legalmente ainda é um desafio devido ao temor da matéria-prima estar ligada ao desmatamento. A tecnologia entra como aliada, com ferramentas de rastreabilidade cada vez mais sofisticadas.

A GenomaA Biotech, startup especializada em biologia molecular sediada no Parque Tecnológico de Piracicaba (SP), desenvolveu uma solução de rastreamento para produtos florestais por meio do sequenciamento genético de espécies e identificação por DNA. A partir de um banco de informações genéticas formado com mais de 1.100 amostras de madeiras e folhas coletadas em áreas de manejo, a tecnologia permite identificar tanto a espécie quanto verificar sua assinatura genética, ou seja, as características da população de árvores de determinada área.

Na prática, as ferramentas de rastreabilidade por DNA permitem assegurar que uma madeira seja exatamente da espécie comercializada e que veio de uma área de manejo específica, além da data da colheita e geolocalização. “Essas tecnologias vêm num momento em que o consumidor, especialmente internacional, tem buscado garantias de origem e legalidade”, diz David Escaquete, head de vendas do grupo TMNH, do qual faz parte a GenomA Biotech.

“O consumidor tem buscado garantias de origem e legalidade”

— David Escaquete

A recente lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que entrará em vigor em janeiro de 2025, e a Lacey Act, que estabelece condicionantes para a entrada de madeira estrangeira nos EUA, fizeram aumentar a demanda por mecanismos de conformidade. Essas tecnologias já estão sendo empregadas por duas empresas exportadoras – a Blue Timber Florestal e a Samise Florestal, que realizam manejo certificado em duas concessões florestais no Pará. As informações genéticas sobre a madeira, bem como a documentação atestando a origem legal fornecida pelos órgãos ambientais, podem ser consultadas pelos compradores por meio de um QR code.

A CRAS Madeira, que comercializa produtos de madeira de manejo florestal certificado no Pará, desenvolveu uma tecnologia própria que permite que o consumidor saiba com precisão de onde vem a madeira que está adquirindo. Ao solicitar o rastreio de madeira no momento da compra, é possível acessar, por meio de um QR Code, dados sobre a espécie, o número da autorização de manejo emitido pelo Ibama e a geolocalização exata onde a madeira foi colhida.

De acordo com Rodrigo Chitarelli, diretor-presidente da CRAS Brasil, a tecnologia é uma forma de disseminar informações sobre o manejo florestal e sua importância para a conservação das florestas. “Sempre lutamos contra uma percepção negativa do consumidor sobre a madeira retirada da Amazônia. Agora, temos uma forma de contar que o manejo segue critérios, como o corte de apenas três árvores por hectare, respeitando a fase de crescimento da espécie e promovendo a renovação da floresta”, explica.

A desconfiança do consumidor não é sem motivo: cerca de 30% da extração de madeira na Amazônia é feita de forma irregular, segundo dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex). No período entre agosto de 2021 a julho de 2022, foram explorados 394,6 mil hectares de florestas nativas para fins madeireiros. Dessa área, 73% tinham autorização de exploração florestal emitida, e os 27% restantes (104,4 mil hectares) ocorreram de forma não autorizada. No entanto, é difícil estimar a real retirada de madeira da floresta de forma ilegal.

“O gargalo do setor florestal é o intermediário. Por isso as tecnologias de rastreio são fundamentais para dar segurança ao comprador e combater a crise de imagem relacionada ao desmatamento”, diz Maryane Andrade, consultora de legalidade florestal do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

A organização desenvolveu, em 2017, a plataforma Timberflow, com oobjetivo de facilitar a visualização das etapas da produção de madeira da Amazônia, com base nos dados dos sistemas oficiais de controle
federal DOF/Sinaflor e dos Estados do Pará e Mato Grosso, principais produtores. A ferramenta passou por aperfeiçoamentos e, no próximo mês, será lançada uma nova versão, com dados sobre legalidade (áreas alvos de embargos por desmatamento, por exemplo) e ligados à cadeia produtiva dos produtos madeireiros.

Outra forma de o consumidor aferir se um produto foi extraído com legalidade é por meio da certificação florestal. O selo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) é o mais consolidado, com 30 anos de mercado. No Brasil, tem 7,6 milhões de hectares certificados. Destes, 1,2 milhão estão em concessão florestal na Amazônia. “Hoje, 90% das áreas de concessão estão certificadas com FSC, pois os empreendedores entendem o selo como uma garantia a mais de legalidade”, diz Elson Fernandes de Lima, diretor executivo do FSC Brasil.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/amazonia/noticia/2024/09/05/checagem-da-procedencia-da-madeira-e-aperfeicoada.ghtml